Já pensou entrar na loja da sua marca favorita para comprar um produto e sair de lá com ele de graça? Pois essa tem sido a aposta de muitas marcas nos últimos tempos. Diversas empresas estão adotando a estratégia de distribuir produtos grátis em ações especiais. Mas afinal, qual é a lógica por trás disso e que benefícios essa prática traz para as marcas?
Uma das ações mais recentes foi a parceria entre Carmed e Drogaria São Paulo, na qual, durante dois dias, consumidores que comparecessem a uma unidade vestidos de azul eram presenteados com um hidratante labial da marca. A Cacau Show é uma marca que realiza esse tipo de ação de forma recorrente. Na mais recente, executada no Dia do Chocolate, a marca distribuiu 1 milhão de trufas gratuitamente para os consumidores cadastrados em seu programa de experiência. Em março, a rede também distribuiu os doces em uma ação comemorativa ao Oscar do filme brasileiro “Ainda Estou Aqui”.
Mas, então, o que as marcas ganham com isso? Para Rodrigo Catani, diretor da Gouvêa Consulting, ao realizarem esse tipo de ação promocional, as marcas buscam gerar um “buzz” no mercado. A estratégia vai além de aumentar a exposição da marca para quem já é consumidor: ela também visa incentivar a experimentação e atrair um novo público.
“É uma ativação de marca muito forte, que gera fluxo adicional para os pontos de venda — sejam próprios ou franqueados, como no caso da Cacau Show, sejam terceiros, como farmácias, no caso da Carmed. E, claro, depois de distribuir o produto de graça, as marcas esperam conquistar novos consumidores ou aumentar a frequência de compra dos atuais”, explica.
Fenômeno Krispy Kreme
Preparando o terreno para a inauguração de sua primeira loja no Brasil, aberta em abril deste ano em São Paulo, a rede americana Krispy Kreme realizou uma ação ambiciosa de distribuição gratuita pela capital paulista. A marca distribuiu milhares de donuts em locais estratégicos, como Avenida Paulista, Parque Villa-Lobos, Pinheiros e Vila Olímpia, formando enormes filas de pessoas em busca da caixinha de rosquinhas.
Cristiane Berna, diretora de Marketing da Krispy Kreme Brasil, explica que a estratégia foi criada como uma forma de aproximação com o consumidor brasileiro, com foco em despertar curiosidade e promover a experimentação.
“Os Donut Drops foram o ponto de partida: distribuímos mais de 100 mil donuts gratuitamente em 20 locais estratégicos de São Paulo. Dessa forma, os consumidores puderam ter o primeiro contato com o produto”, conta.
A estratégia adotada pela Krispy Kreme conseguiu levar um pouco da experiência sensorial da loja para as ruas, afirma Cristiane. “Após a abertura, seguimos estreitando esses laços com nossos consumidores.”
As ativações com distribuição gratuita de produtos ajudaram a Krispy Kreme a criar uma conexão emocional imediata com o consumidor do País. “O público brasileiro valoriza indulgência e experiência, e é exatamente isso que entregamos. Ao experimentar o produto gratuitamente e em um contexto divertido, o consumidor passou a enxergar valor e autenticidade na marca. Isso aumentou o desejo pelo produto e gerou uma expectativa positiva em torno da inauguração da flagship”, destaca Cristiane.
Tradição
A Krispy Kreme está dando passos estratégicos no Brasil. Após a inauguração de sua flagship em São Paulo, que até então era o único ponto de venda onde os consumidores podiam adquirir os donuts da rede, a marca anunciou recentemente a venda de seus produtos na rede de lojas AmPm, em quantidades limitadas e em uma única unidade por semana.
“A Krispy Kreme adapta suas ações ao perfil de cada país, respeitando a cultura local e mantendo a essência global da marca. No Brasil, entendemos que o público é altamente conectado e engajado, por isso optamos por uma abordagem que unisse interatividade, surpresa e potencial de viralização, o que funcionou muito bem por aqui”, conta a executiva.
Ela explica que os drops já são uma tradição da marca em inaugurações. No Brasil, a estratégia foi aliada à comunicação em mídia de massa, com rádio, blitz e presença digital, gerando forte engajamento com o público.
Marcas que entraram na tendência
Apenas no primeiro semestre de 2025, diversas marcas realizaram ações de distribuição gratuita de produtos para seus consumidores. Em abril, o McDonald’s passou a oferecer café em mais de 700 unidades da rede e, em junho, disponibilizou 2 milhões de cupons para a retirada de uma casquinha grátis, ambos resgatados exclusivamente pelo app da empresa.
Também em abril, a Amstel comemorou o King’s Day com chope gratuito para os clientes. Por meio da plataforma MyBar, o primeiro pedido era por conta da marca.
Em maio deste ano, foi a vez do Pizza Hut que, no lançamento do seu programa de fidelidade, ofereceu uma pizza grátis para quem baixasse o novo aplicativo e realizasse o cadastro. No mesmo mês, o Johnny Rockets, em parceria com a Vigor, distribuiu milkshakes gratuitos em locais da Grande São Paulo para divulgar o lançamento da releitura do iogurte Grego Frutas Vermelhas no novo Shake Supreme da rede.
A Starbucks também entrou na onda dos produtos grátis. Após a Zamp assumir a gestão da marca, a rede promoveu, durante uma semana, a campanha “Vamos Retomar?”, que, entre as ações, oferecia gratuitamente uma bebida aos clientes em todas as lojas do Brasil.
A forma de participar da campanha era diferente da maioria das ações do tipo. Para garantir a bebida grátis, o cliente precisava publicar uma foto com sua bebida favorita da Starbucks no Instagram (feed ou story), marcando o perfil do Starbucks Brasil.
O pistache foi uma das maiores tendências do ano, com várias marcas investindo no sabor. A Bacio di Latte também entrou na onda com o lançamento de um sorvete e, para divulgar a novidade, distribuiu 5 mil unidades gratuitamente aos clientes.
“A disputa pela atenção é o nome do jogo. Então, distribuir produtos de graça é uma maneira muito assertiva de conseguir isso. Porém, é preciso sustentar a captura dessa atenção na sequência, o que passa por entregar uma proposta de valor diferenciada ao seu público-alvo”, explica Rodrigo Catani.
Imagens: Envato e Mercado&Consumo